A eletricidade é uma matriz essencial para a sociedade moderna e está presente em todos os aspectos da humanidade. Mas apesar de ser indispensável, ela traz consigo riscos que devem ser observados para não causar acidentes que, na maioria das vezes, são graves ou até mesmo fatais.
Dados do Anuário Estatístico de Acidentes de Origem Elétrica da Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel), divulgados neste mês, revelam que, no ano passado, ocorreram 2.089 incidentes envolvendo eletricidade no país, resultando em 781 mortes.
Em 37,4% das ocorrências houve óbitos. De acordo com o estudo da Abracopel, foram registradas 674 mortes por choques elétricos em 986 acidentes, além de 67 fatalidades em 963 incêndios de origem elétrica. Já as descargas atmosféricas foram responsáveis pela morte de 40 pessoas em 140 acidentes.
O gerente de Segurança do Trabalho da Cemig, Antônio César Lima Santos, alerta que apesar dos avanços sobre o uso seguro da eletricidade, o Brasil ainda tem um longo caminho para reduzir este tipo de ocorrência.
“A eletricidade é um bem essencial para a sociedade, mas precisamos ter ciência dos seus perigos. Precisamos fazer que essa cultura esteja cada vez mais presente na vida dos brasileiros para que possamos reduzir consideravelmente esse tipo de acidente, que é muito grave e pode causar mutilações e até mesmo mortes”, comenta.
Apesar do alto número de ocorrências e fatalidades registradas pelo Anuário da Abracopel, a entidade destaca que os números reais podem ser até três vezes maiores do que os apontados no levantamento, uma vez que nem todos os incidentes são registrados pela associação.
Minas Gerais
Nas últimas semanas, ocorreram dois acidentes fatais envolvendo energia elétrica em Minas Gerais, o que demonstra a necessidade de ressaltar os cuidados e a criação de uma cultura do uso seguro e consciente da eletricidade.
As ocorrências com vítimas aconteceram em situações cotidianas, como o caso de um homem de 29 anos, que teria esquecido a chave do seu estabelecimento, em Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira, e, ao tentar pular o muro para entrar no local, encostou em fios energizados.
A outra fatalidade aconteceu com um jovem de 21 anos que estaria soldando uma estrutura em um posto de gasolina em Frutal, no Triângulo Mineiro, e acidentalmente tocou em um cabo de média tensão.
Choques elétricos
Segundo o Anuário da Abracopel, em 2023 as mortes provocadas por choques elétricos cresceram 13,9% em relação ao ano anterior, passando de 592 para 674 vítimas fatais.
O estudo da Abracopel aponta que os principais causadores de acidentes e mortes por choques elétricos foram ocasionados nas áreas de geração, transmissão e distribuição (418 ocorrências e 267 óbitos), áreas residenciais (274 acidentes e 210 vítimas fatais) e áreas rurais e naturais (83 ocorrências e 67 fatalidades).
Conforme o Anuário da Abracopel, o elevado número de acidentes associados às redes de distribuição área ocorre devido ao contato acidental com linhas elétricas energizadas. As principais situações são referentes às obras civis, onde as vítimas, ao manusearem materiais metálicos próximos ao sistema de distribuição acabam tocando os circuitos elétricos acidentalmente.
Para evitar acidentes dessa natureza na rede de distribuição, Cemig e Abracopel ressaltam que é necessário realizar uma Análise Prévia de Riscos (APR), que deve observar os acidentes elétricos.
“Essa recomendação é prevista na Norma Regulamentadora Nº 10 (NR-10) e também na ABNT NBR 16384:2020, que trata de Segurança em Eletricidade e que faz recomendações e orientações para o trabalho seguro com a eletricidade. É um procedimento simples e que pode salvar a vida de muitos profissionais do setor”, afirma Antônio César Lima Santos.
“É fundamental observar a localização da rede elétrica para que os serviços sejam realizados com segurança. Em alguns casos, é necessária a instalação de barreiras protetoras para garantir o manuseio seguro de vergalhões, tábuas, canos e outros materiais”, completa o especialista da Cemig.
Além disso, os acidentes de trânsito que envolvem postes da rede elétrica e o impacto mecânico de árvores ou outros objetos nos circuitos elétricos também contribuem significativamente para o número de fatalidades, especialmente, durante o período chuvoso no Brasil.
Nas residências, os acidentes ocorrem principalmente, pela energização acidental de equipamentos elétricos com partes metálicas externas, envelhecimento e falta de manutenção adequada dos equipamentos.
Soma-se a isso, a ausência de aterramento elétrico adequado e a falta da utilização do Dispositivo Diferencial Residencial (DR), que é um aparelho que poderia ter salvado dezenas de vidas e é exigido nos projetos de construção no Brasil desde 1997.
Importante destacar que, segundo a Abracopel, cerca de 70% dos acidentes residenciais provocaram mortes no Brasil no ano passado.
Os principais causadores de acidentes elétricos nas residências são os fios partidos ou sem isolamento (46 ocorrências e 37 mortes), eletrodomésticos (38 episódios e 31 fatalidades), manutenção caseira – telhado, antena, ar-condicionado (35 casos e 24 óbitos). Outras situações que provocaram acidentes foram extensão, benjamim e tomadas, cortador de grama/lava jatos, máquina com fuga de corrente, bomba d’água, carregador de celular, cerca energizada e varal ou portão energizado.
Incêndios de origem elétrica
As sobrecargas na rede elétrica são outros grandes causadores de acidentes no Brasil. Tomadas sem dimensionamento, má qualidade dos fios são os principias causadores desse tipo ocorrência.
Dessa forma, fios e cabos irregulares, sem a quantidade correta de cobre que não suportam a demanda de energia, aquecem, derretem a capa de proteção e pegam fogo. Desta forma, casas e apartamentos antigos correm ainda mais risco, pois raramente se pensa em uma reforma da instalação elétrica.
Além disso, o gerente da Cemig alerta que é importante que aparelhos com maior potência, como ar-condicionado, chuveiro elétrico e micro-ondas tenham circuito próprio, para evitar acidentes.
É importante dimensionar as tomadas para cada tipo de aparelho, pois alguns precisam desses pontos de conexão com suporte para maior amperagem, como aparelhos air-fryer (fritadeira elétrica), por exemplo.
“As casas precisam ter um projeto elétrico, o que facilita a manutenção e até a avaliação para o acréscimo de novas cargas, e qualquer serviço elétrico deve ser feito por profissionais qualificados ou capacitados, para que não haja esse tipo de problema”, complementa.